domingo, 10 de abril de 2022

 PALAVRAS VAZIAS


 Quando da palavra ausente se faz a realidade, 

Por mais bela que seja, estética atirada ao léu,

desprovida está dos traumas

que afligem os esquecidos nas quebradas, marginais, guetos e recantos 

onde o grito, ainda que ecoe, e ecoa além-fronteiras imaginárias e reais,

sinaliza a indiferença dos que na fartura,

às vezes indigna, 

ouvidos não têm, nem desejam,

senão para os iguais,

cuja vida se nutre do que falta no tempo,

no espaço,  no corpo e na vida,

talvez até na alma dos invisíveis 

de uma pátria, amada?


A palavra pensante, hein Guimarães!

hoje, quase ignorada,

precisa ressurgir na mente, no coração 

e retornar às vitrines onde nua e crua 

exposta esteja a realidade dos ais,

das lágrimas, retrato fiel e visível das dores 

de corpos sucumbentes,

nascidas e alimentadas 

por nossas cegueiras intencionais.


terça-feira, 7 de abril de 2020

Hoje, trago trecho do primeiro capítulo do livro "Como Proust pode mudar sua vida", de Alain de Botton.

Como amar
a vida hoje



Há poucas coisas a que os seres humanos se dedicam mais do que a infelicidade. Se tivéssemos sido colocados na Terra por um criador maligno apenas para sofrer, teríamos uma boa razão para nos congratular por nossa reação entusiasmada a essa tarefa. Motivos para ficarmos inconsoláveis não faltam: a fragilidade do nosso corpo, a inconstância do amor, as hipocrisias da vida social, as concessões da amizade, os efeitos entorpecentes da rotina. Diante de males tão persistentes, poderíamos naturalmente esperar que nenhum evento fosse tão aguardado quanto o momento de nossa própria extinção.